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OBRIGADO, RITA DE CÁSSIA!

Rita de Cássia

Obrigado, Rita!


Desde que fiquei sabendo da notícia da partida precoce da Rita de Cássia para os céus, ando pensativo desde então sobre a tarefa árdua que também tenho em cumprir o fato de informar aos que acompanhando as novidades da Mastruz com Leite através do nosso fã clube sobre essa imensa perda. De lá para cá obtive um misto de sensações e pensamentos de como deveria fazer algo que chegasse a pelo menos um porcento da grandiosidade de tudo o que a Poetisa fez, claro que hoje mostro o quanto falhei drasticamente, pois essa é uma tarefa impossível de ser realizada.


Serei aqui bem breve para falar sobre a Rita, para falar também de toda a importância de sua existência e de suas canções para que hoje eu esteja aqui escrevendo e alguém que tem assim como eu o mesmo gosto em comum que é o forró e principalmente a banda Mastruz com Leite, possa estar lendo essa matéria.


Pensei em escrever, pensei em até gravar um vídeo, mas todo mundo sabe que o Fã Clube para mim é um hobby que diversas vezes se torna tão trabalhoso como o meu serviço empregatício, o que não impede de que o valor do que o Forró Mastruz com Leite tenha também tanto peso imaterial quanto àquele que exerço semanalmente.


A verdade é que se não fosse a Rita de Cássia eu certamente poderia até ter conhecido o Mastruz com Leite, contudo não teria me apegado da forma como me apeguei. Já chorei, dancei, já sorri e tive tantas e tantas outras emoções com base nas músicas gravadas por tantas vozes que passaram e estão na banda que, não apenas nas canções da Rita de Cássia, claro, mas são foram massivamente nelas onde por muitas e muitas vezes no meu dia-a-dia me encontrei. Há sempre uma resposta para algo que procuro. Como um cristão, cuja a verdadeira Palavra é encontrada nas orações, na nossa fé, nos livros e evangelhos contidos na Bíblia Sagrada, mas é circular em outra curva da qual aparece a arte e carregada com ela estão as obras da Rita de Cássia, a nossa Poetisa, ela que agora foi compor ao lado do Pai.


Para lembrar um pouco sobre a sua carreira, a Poetisa Rita de Cássia começou a cantar com um dos seus onze irmãos, o cantor e sanfoneiro Redondo que tinha uma banda de nome Som do Norte que fazia seus shows na cidade de Alto Santo e região. A mãe deles na verdade não queria que a Rita participasse dos shows porque segundo o padre de sua paróquia a considerava muito inteligente e isso seria um desperdício para com a sua vida.


Aos poucos Rita de Cássia foi começando a por para fora as suas obras, colocando as suas músicas na banda do irmão. Curiosamente ela não falava que as tais músicas não era de sua autoria, mas sim que era de outros compositores. "Sonho Real" e "Brilho da Lua" são exemplos de suas primeiras criações, estas que aos poucos foram ganhando asas nas rádios de Fortaleza ao serem cantadas por outras bandas de forró. As bandas em Fortaleza começaram a tocar bastante as suas músicas, tanto que o Forró Mastruz com Leite começou a tocar juntas "Brilho da Lua" com "Sonho Real", mostrando o elo pensado a ambas as canções.


O empresário Emanoel Gurgel buscou e acabou por descobrir o telefone daquela que seria a maior parceira música de seu escritório, e conseguindo o seu contato telefônico como a realizou posteriormente todos os trâmites legais para que suas bandas pudessem ter a devida autorização em gravar as suas músicas. Curiosamente a canção "Brilho da Lua" foi gravada primeiramente pela cantora Eliane, ficando a cargo do Forró Mastruz com Leite gravar no Pro Áudio Estúdio do Marcílio Mendonça a primeira de muitas grandes pérolas que viriam a ser eternizadas, e assim "Sonho Real" entrou no disco “Arrocha o Nó” no ano de 1992.


Seguidamente a canção “Meu Vaqueiro, Meu Peão”, esta que viria a se tornar um hino do gênero musical, foi criada por Rita logo assim que ela saiu de uma crise de pneumonia, onde posterior já em alta médica, ela já estava com a obra musical toda pronta. Entrando em contato com o Emanoel, Rita ouviu do empresário que para fechar o novo trabalho da banda (Só Pra Xamegar) estava apenas faltando as suas músicas. Por não viverem na alta tecnologia como temos hoje, o compositor e produtor musical Ferreira Filho seguiu viagem de Fortaleza até a cidade de Alto Santo para gravar as músicas que a Rita tinha naquela época e que entrariam no novo trabalho da banda mãe. Rita tinha naquele momento gravado cinco músicas, no entanto quatro delas é que foram para o discos (“Meu Vaqueiro, Meu Peão”; “Pedaço de Solidão”; Onde Canta o Sabiá” (segundo Rita a que ela mais gosta) e “Meu Cenário). A que não foi gravada se chama “Sanfona de Gonzaga”, pois para Emanoel Gurgel naquele momento eram feitas muitas homenagens Luiz Gonzaga e que isso poderia fazer com a que obra ficasse no esquecimento.


Uma outra curiosidade de mais uma grande obra da Poetisa está na canção “Raízes do Nordeste”, que inicialmente se chamaria “Chapéu de Palha” e precisou passar por uma reformulação em sua letra já que a mesma trata-se de um manifesto correlacionada ao Impeachment do então presidente da república Fernando Color de Melo. “Tatuagem” também tem uma curiosidade similar a outras grandes canções da Rita, pois ela não queria que o Forró Mastruz com Leite a gravasse vide o direcionamento que a mesma viria a dar pela forma interpretativa com a qual a já saudosa Poetisa fortalecia seus preceitos e crenças.


Em sua família, por ter um grande número de membros, tem de tudo um pouco do Nordeste. Seu pai conhecido como Chico Fulô, por exemplo, era pescador, agricultor e também tocava sanfona. Já por parte de Maria, a sua mãe, que teve irmãos voltados para a vaquejada, tornou-se professora, contudo segundo Rita ela não conseguiu fazer o seu esposo ler o que não diminuiu a sabedoria dele. Por coincidência divina, a sua mãe tinha o mesmo nome da mãe do empresário Emanoel, ambas naturais da cidade de Alto Santo.


Popularmente conhecida como a maior obra de sua autoria, a canção “Saga de um Vaqueiro” é sim baseada em fatos reais que conta a história de pessoas de sua cidade natal, contudo o seu final foi criado por Rita. O filho do então vaqueiro desta linda história não acompanhou o legado de seu pai, pois sua família era de comerciantes e ele seguiu esse legado familiar. Assim como “Tatuagem”, Rita também não queria que “Saga de um Vaqueiro” fosse gravada por considera-la muito grande, e no final coube ao cantor Neto Leite na época da primeira gravação em estúdio solicitar ajuda da compositora para fazer a base da obra, dando a ele todo o suporte necessário.


Rita de Cássia com o seu irmão Redondo gravaram na SomZoom doze discos e em carreira solo a Poetisa gravou outros brilhantes álbuns em que declama suas pérolas ao som de seu inseparável violão. Sempre lembrada e celebrada, a eterna Poetisa foi em vida homenageada por diversos artistas da classe musical nordestina, e claro que com o Mastruz com Leite não foi diferente. No ano passado o disco “Canta Rita de Cássia” trouxe 35 grandes sucessos aos quais certamente sempre ecoarão na cabeça e coração dos ouvintes do bom forró.


Rita é eterna e deixa uma gigantesca contribuição para a minha e certamente para a sua vida, meu caro leitor. Vamos sempre lembra-la  saudades, mas vivendo-a com bastante clamor ao cantarmos o que tanto ela nos deixou. Não existirá páginas em branco, pois a sua escrita é infinita em todas as gerações posteriores. Obrigado, Rita. Obrigado! Te amei!


Rita de Cássia



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