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O EFEITO TIAGO SENA


Novas linhas e sutis mudanças no Forró Mastruz com Leite têm trazidos aspectos mais orgânicos, criando novas camadas como contatos com fãs, trabalhabilidade na imagem da banda e um setlist de shows mais expansivo, tudo isso sob à ótica do Tiago Sena.

Para quem já pôde se deparar em tempo pretérito com uma frase como "não alteramos o repertório por medo do público não gostar", posso dizer que ver e ouvir o que é praticado atualmente são brilhos nos olhos até para aquele fã mais exigente quando o assunto é sobre as alteração no repertório da banda mãe. Afinal, mais precisamente desde o ano de 2009 quando a camada "Forró das Antigas" foi estabelecida, vivíamos tempos impraticáveis por parte da classe da música popular nordestina, em especial claro àquela que negava-se a praticar a empobrecida musicalização praticada, e não conseguiam repaginar seus shows para algo agora considerado "passado", "antigo".

Por mais que buscassem incorporar novas apostas (hits ou mesmo canções de novo álbum), posso aqui estabelecer que uma minúscula parcela do público que ia prestigiar esses artistas, dificilmente estaria apreciando-as, dificultando em si a oportunidade de conhecer algo novo daquele artista. Obviamente que com o Mastruz com Leite isso não foi diferente. 

De 2009 para cá o Mastruz gravou cinco grandes discos ("Em Todos os Sentidos" naquele mesmo ano, "Vaquejada e Forró" no ano de 2011, "Solando Pra Você Dançar e Cantar V" em 2012, "Na Contramão Como Preferencial" em 2013 e por fim, o "São João de Todos os Tempos" no ano de 2018) recheados de diversos singles e grandes canções que certamente poderiam fazer parte até os dias de hoje do repertório fixo de shows. Poderiam, mas não estavam, pelo menos não até a chegada do Tiago Sena. Mas antes de entrar no mérito do retorno do tecladista e agora também produtor da banda, sinto-me na necessidade de exemplificar com a comprovação de que sim, várias obras foram gravadas pela pioneira do forró eletrônico, e certamente estariam na graça do grande público.

Do disco "Em Todos os Sentidos", como não lembrar dos singles "Mulherada" (Ribeiro Santos/Christian Santos), o qual se estabeleceu como uma aposta vibrante aos moldes de tantas outras já interpretadas pelo Neto Leite? Posso citar também "Ao Passo da Loucura" (Zélia Santti/D'Avilla/Polyanna Mel), que também é desse grande disco e que na nossa eleição das 50 mais do Mastruz com Leite ficou em quarto lugar. Outro grande sucesso que aos poucos foi também introduzido no repertório na época, foi o outro single "Sei Me Cuidar" (Zélia Santti/Zé Maria), mas como os já citados, foi excluído da lista sem qualquer cerimônia. Particularmente adicionaria outras à essa questão, mas darei apenas uma menção honrosa para a canção que dá nome ao disco - de autoria Fransalles Pacajus. Muito provavelmente com esse aspecto "chiclete", ela estaria fazendo frente e muito barulho na mente do público, algo parecido com "São João de Todos os Tempos"  e "Rolê Junino" (Ferreira Filho/Rômullo Santa Ray), que além de fazer todos dançarem marchinhas, estavam em plenos pulmões destacando o nome da banda presente na letra direta e indiretamente.

Minha intenção não será aqui dissecar os álbuns citados, pois a experiência deve ser levada ao bem particular de cada um. Vale apenas o uso da exemplificação de que o mesmo aspecto aconteceu com os outros discos que sucederam o disco "Em Todos os Sentidos". Claro, também não posso deixar por esquecidos os singles lançados de forma individual, principalmente os gravados pelas vozes das vencedoras dos concursos, além dos outros trabalhos inéditos deste recorte temporal que merecem bastante destaque e enquadram-se com toda positividade de estarem nos setlist dos shows.

Além da citação acima apresentada, outra que merece menção é a de que "...tem músicas do Mastruz que é para o fã ouvir em casa, colocar o seu CD. Há outras que são para shows, para quem esporadicamente ouve o Mastruz." Certamente essa é uma feliz sabedoria, pois comprovamos sempre o nível de dificuldade que é ouvir algo feito pelo Mastruz com Leite, onde o fã mais fiel se dará por satisfeito e o alto público também gostará e facilmente será "pegado". Porém, é com tamanha infelicidade que subjugo o empobrecimento de como a maior parcela consume música, fazendo essa separação entre aspecto mais íntimo e outro mais efusivo dos hits musicais.

Apresentadas as circunstâncias, retornemos ao tema, pois como bem acompanhamos ao longo desses anos, por mais que o Mastruz com Leite quisesse incorporar novos trabalhos em seus shows, o risco de a massa não gostar justamente por não se quer dá-lhe o trabalho de conhecer, praticamente engessou o setlist da banda. Uma métrica observada pelos fãs mais atentos quanto à essa e outras questões mais próximas do assunto em questão, foi à aderida pelo Tiago Sena. Repertório, imagem da banda e o reavivamento da simbologia do fã foram resgatados, hoje são bem presentes em shows e nas tais e enraizadas redes sociais. Aos poucos fomos observando pequenos cenários criados, onde alguém com um pouco de coragem devesse bancar tais problemáticas.

O efeito Tiago Sena somou ao âmbito bem jovial da frente de vocais, relembrando outrora e o resinificando. Buscando não sobrepor as vontades do grande público e nem dos fãs mais fieis, a destinação dada ao Tiago de trazer esses aspectos tem sido trabalhada com bastante luz a quem já brilha com o seu natural dom através dos músicos talentos que a banda tem, arranjadores brilhantes e compositores fora de série, resultando na equação já pedida em anos anteriores. Esse tal efeito Tiago Sena na verdade deve ser usado para ascender um alerta aos contratantes, pois como qualquer um que agora foi ou irá em um show do Forró Mastruz com Leite, certamente teve ou terá a sensação de que uma hora, uma hora e meia de show é muito pouco para o tanto de obras já produzidas ao longo desses 32 anos de história.

Postulado a ouvir esses dois lados da moeda nessa difícil tarefa criada em prol da satisfação, o Tiago traz como missão advogar esse balanço por muitas das vezes escravizado pela grande mídia, onde a banda a qual ele faz parte não há o que comprovar mais nada para ninguém, pois é mais cabível entender que o que o Mastruz com Leite produz é certemente feito de muito bom grado. Nessa aparente dicotomia, afagar diferenças tem sido uma tarefa com a qual os atuais hits têm surtido efeito, afinal foram escolas, crianças e pessoas de diversas classes com as quais se renderam ao som da banda mãe em 2022 sem se sentirem órfão daquilo exibido como eterno, mas que foi um sopro passageiro e o que na verdade ficou foi a boa música, foi o bom forró. 

Claro que fica também aqui o asterisco bem imenso para as irmãs Rebeca e Lívia Gurgel - certamente terão um artigo com muitos agradecimentos por toda a contribuição que vêm dando -, principalmente ao que fizeram com a imagem da banda nesses dois anos de pandemia. Muito provavelmente em um recorte temporal como algo próximo a daqui a uns 30 anos, estarei novamente aqui soltando bravuras a respeito do repertório da Mastruz com Leite, pois a banda só quer tocar os hits gravados lá naqueles anos de 2021 e 2022, álbuns do "Canta Rita de Cássia" e "Role Junino". Sentirei saudades de "Meu Vaqueiro, Meu Peão" (Rita de Cássia), "A Praia" (Dorgival Dantas), "Menino Sem Juízo" (Bete Nascimento), "Na Ponta do Pé" (Luís Fidélis), "Saga de um Vaqueiro" (Rita de Cássia)...

Amigo Mastruzeiro, podemos pôr a cabeça no travesseiro e dormir sossegados e bem contentes como o que também temos na organização da nossa querida banda, pois não é borboleta, mas com eles no comando e com essa tocada podem fazer chover onde bem entendem já que tem fôlego para mais e mais e mais décadas, e assim queremos.

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