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MASTRUZ COM LEITE, ÚNICA BANDA CAPAZ DE GRAVAR UMA MISSA

Mastruz com Leite Gravar Missa

E se o Forró Mastruz com Leite também fosse a pioneira entre as bandas de forró eletrônico a gravar uma Missa?


Sei que esse é um tipo de artigo ao qual não terá um alcance normal, afinal, será abordada uma temática que passa bem distante da normalidade conhecida pelo público do forró. Tenho ciência disso, ainda mais quando vejo a excêntrica necessidade de comentários como "... na época do quarteto..."; "...antigamente era melhor..." que convenhamos, parece um diálogo ingênuo sem fim.


Mesmo assim, existindo ou não esse tal alcance essa é uma das minhas menores preocupações. Fazendo com que algum curioso chega até o fim e se der ao menos a vontade de sua curiosidade trabalhar em prol de aumentar o seu aporte musical, uma mínima pessoa, já estarei por satisfeito. Mas se mesmo assim isso não existir, me sento satisfeito por ter pesquisado e escrito algo assim bem fora do padrão. Sejamos honestos, na verdade, pouco se escreve sobre música nesse país.

 

Mas vamos ao que interessa: afinal, o que é uma Missa no sentido de gênero musical? Bem, até a década de 1960 as Missa eram rezadas em latim (com uma breve exceção), entretanto, foi através do Concílio que aconteceu no Vaticano no papado de João XXIII que se decidiu que elas deveriam ser rezadas no vernáculo, ou seja, no idioma respectivo de cada país.


Durante muitos séculos nessas Missas não podiam se utilizar textos diferentes daqueles da celebração, e desse modo certos movimentos podiam ser usados naquelas palavras sagradas. Por causa disso e durante todo esse período secular, vários compositores escreveram músicas usando exatamente esses mesmos textos, nos possibilitando compararmos essas abordagens musicais ao longo do tempo nesses quase dois mil anos.


O Ordinário da Missa, isto é, aquilo que é comum nas celebrações, é exatamente o que acontece em todas as Missas com algumas exceções de caráter especial, como por exemplo as Missas das Sexta-Feira da Paixão onde se retira uma parte delas. Esse Ordinário da Missa é basicamente feito por cinco movimentos, sendo eles o Kyrie, Credo, Gloria, Sanctus e Agnus Dei. Desses, o único que não é em latim é o Kyrie, pois a sua origem está no grego.


E o que seria o Kyrie? Logo no começo da Missa o celebrante diz: Senhor tende piedade de nós. Cristo tende piedade de nós. Senhor tende piedade de nós. Que em grego é:

Kyrie Eleison.
Christe eleison.
Kyrie eleison.

Já o Credo (se lê crêdo), em português a oração é:

Creio em Deus Pai, todo-poderoso.
Criador do Céu e da Terra.
E em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor.
Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo.
Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos.
Foi crucificado, morto e sepultado.
Desceu a mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus.
Está sentado a Direita de Deus Pai todo-poderoso.
Donde há de vir julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica.
Na comunhão dos santos, na remissão dos pecados.
Na ressurreição da carne, na Vida eterna. Amém!


Esses são os dois primeiros movimentos da Missa. Toda a letra do Kyrie pode-se dizer que é de "fácil de musicalização", já o Credo é mais complicado - não que toda a criação da missa não seja -, em razão disso os compositores tendem a "pintar com tintas pesadas, tristes e depois alegre" na construção do Kyrie e Credo, onde Jesus ressuscitou.


Esse Ordinário tem que acontecer nas Missas obrigatoriamente, quer dizer, partes fixas não mudam  conforme o dia litúrgico, mas também tem aquelas mudadas conforme a festa, o tempo litúrgico, entre outros. Esses textos especiais das Missas que não são as comuns são chamados de Próprio. A missa de Requiem, por exemplo, é uma Missa fúnebre de textos especiais, onde não tem o Glória e sim outras orações fúnebres.


Por falar nisso, o texto do Glória é:


Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados.
Senhor Deus, Rei dos céus. Deus Pai todo poderoso.
Nós vos louvamos, nós vos bendizemos, nós vos adoramos
Nós vos glorificamos, nós vos damos graças por vossa imensa glória.
Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito. Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai.
Vós que tirais o pecado do mundo. Tende piedade de nós.
Vós que tirais o pecado do mundo. Acolhei a nossa súplica.
Vós que estais à direita do Pai. Tende piedade de nós.
Só vós sois Santo. Só vós o Senhor. Só vós o Altíssimo, Jesus Cristo.
Com o Espírito Santo. Na glória de Deus Pai. Amém!

Acontece que cada compositor coloca a música exatamente nesses textos e como bem disse, isso nós permite comparar a instrumentação de cada época as quais foram produzidas. No final desse artigo, o último link, tem uma playlist com as Missas citadas ao longo desse texto.


Seguindo com os textos, depois do Glória temos o Sanctus:

Santo, Santo, Santo!
Senhor Deus do universo
O céu e a terra proclamam
A vossa glória!
Hosana nas alturas, Hosana
Hosana nas alturas, Hosana
Bendito aquele que vem
Em nome do Senhor
Bendito aquele que vem
Em nome do Senhor
Hosana nas alturas, Hosana


E por fim o Agnus Dei que em português é:


Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade.
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade.
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz.

Essa repetição da oração funciona como uma espécie de ladainha, onde ela tem um poder e quem acredita e tem fé crê nesse poder. Vamos então agora conhecer algumas Missas para fazermos essa comparação evolutiva. O texto será acompanhado com um link de uma playlist criada por mim, onde estão as obras dos respectivos períodos apresentados.


Vamos começar pelo período medieval, esse que vai mais ou menos do século 5º até o século XV. Esse recorte não é exatamente preciso, pois em música nada é considerado absoluto temporalmente falando. Aqui são aproximadamente 1000 anos sem acompanhamento instrumental. Existe-se sim algumas Missas com algum acompanhamento feito por órgão, mas o Canto Gregoriano geralmente à capela predominante. Esse tipo de Missa pode também ser encontrado por Missa Cantochão. Segue logo abaixo, algumas Peças (não missas) musicais desse período Medieval (até a transição para Renascença) que floresceram aproximadamente entre os séculos V e XIV.



Playlist de Música Medieval


Da Renascença, uma das mais bonitas Missas é a do Giovanni Pierluigi da Palestrina. Compositor italiano que trabalhou na Capela Sistina e foi um dos grandes defensores da polifonia na música. Sua Missa a chamada Missa Papae Marcelli, a qual apresenta esses movimentos sendo ela uma polifonia renascentista. Antes de conhecer a Missa citada, segue abaixo algumas Peças musicais desse período onde floresceu entre 1400 a 1600.


Playlist de Música Renascentista


Do período Barroco apresentamos um exemplo da Missa em B (si) menor do Johann Sebastian Bach. Uma Missa Medieval dura às vezes por 20 minutos, a do Palestino citada logo acima tem algo aproximado de 25 minutos, já essa do Bach tem quase duas horas justamente porque o ator destrincha todo o texto. Antes de ouvir a Missa citada, sugiro ouvir essas Peças Barrocas que floresceu aproximadamente entre 1600 e 1750.


Playlist de Música Barroca


Já no período Clássico, cito duas Missas do Wolfgang Amadeus Mozart. Há a Missa da Coroação que é bem curta, pois segundo uma tradição, conta-se que o Arcebispo de Salzburg (Áustria) não gostava de Missas longas. Além dela, sugiro também a Missa em C (dó) menor que o compositor não a terminou, pois ele não escreveu o Agnus Dei. Criei também uma playlist de Peças musicais desse período que  floresceu aproximadamente entre 1750 e 1810. Assim como em todos aqui ainda não há Missas, são  obras em sua maioria populares para você observar essa evolução.


Playlist de Música Classicista


Do Período Romântico apresento duas Missas completamente diferentes. Se uma das características do clássico é a elegância as Missas do período romântico são puro exagero e emoção. Franz Schubert escreveu a Missa em G (sol) que é relativamente curta e Anton Bruckner escreveu a Missa em E (mi) menor para couros e metais (trompete, trombone, tuba, trompa, entre outros). Ouças algumas Peças musicais desse período, escola de época que floresceu no século XIX.


Playlist de Música Romântica


O mais importante de tudo isso até aqui é compreender que as Missas desses períodos (Medieval, Renascentista, Barroca, Clássica e Romântica), cujas obras apresentadas acima eram celebradas em latim e grego, já as Missas do próximo período foram feitas também no vernacular, como dito anteriormente, no idioma local. Estou falando do Período Moderno.


Assim chegamos no período Moderno, onde temos a Missa Afro-Brasileira do compositor mineiro Carlos Alberto Pinto Fonseca. Em sua obra o autor mistura o latim com o português, respeitando a liturgia em latim e a traduzindo para o português. Além dele, fica a indicação também da Missa Criolla de Ariel Ramirez. Essas duas citadas respeitam os textos da Missa em sua totalidade, ou seja, os seus cinco movimentos ordinários.


Há a Missa (Mass) do Leonard Bernstein, responsável por adicionar outros textos na sua obra, além de utilizar instrumentos como guitarra, contrabaixo elétrico, entre outros. A Missa The Armed Man do Karl Jenkins vem de uma tradição das missas antigas, onde se existia uma canção no período medieval de caráter popular e por ter ficado muito famosa os compositores medievais resolveram usar sua melodia para construir a missa. Conheça aqui algumas Peças musicais eruditas dos séculos XX e XXI.


Playlist de Música Modernista


Como vimos, o gênero musical “Missa” é uma forma musicada ligada à liturgia. Foi visto que há grandes criadores de Missas na história, profundos conhecedores da estrutura musical formal, entretanto, existe-se também compositores modernos que mesmo com formações populares criaram missas de altíssimo valor estético, como por exemplo, o Quinteto Violado e a "A Morte do Vaqueiro" composta por Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho em 1963.




Pode-se dizer que existisse-se duas espécies de "Missa" como gênero musical, aquela do “modo litúrgico” e a do  “modo popular”.



Chegamos em fim no alvo desse artigo, onde afirmo da Mastruz com Leite ser a única (banda de forró) capaz de gravar uma Missa. Asseguro dizer isso, onde a própria história da banda fala por si só, através de suas obras musicadas e discos conceituais, da não inserção na modernidade pelo simples modus operandi de sobrevivência, da alta capacidade técnica dos músicos, da direção e da sua produção musical.


Contudo, bem sabemos que por mais que ela seja aqui também a pioneira em produzir algo dessa envergadura, se vê nesse produto de vanguarda pouco benefício midiático, vide a simples observação nos artistas mainstream em nosso país. Pensar e produzir algo desse tamanho, certamente a colocaria num patamar único, ao lado de gênios de obras mundiais, bastaria saber se seus fãs estariam preparados para algo gigantesco e fora da curva.


Apresentadas playlists com Peças (busquei as mais populares) das referidas épocas, segue logo mais abaixo as Missas citadas no artigo, esse que é um dos mais importantes e belos gêneros musicais na história da humanidade.




Playlist das Missas

Fonte principal de pesquisa: Professor e maestro Alexandre Innecco do ECAI

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