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Projeto Ópera Junina


Durante muito tempo fui impulsionado gradativamente aos estudos da instrumentação musical. Neste caso, tirei o pó de minhas harmônicas (mais conhecidas como gaitas de boca) e diversos outros materiais que tenho sobre música. Daí veio um violão de presente, a aquisição do livro de Cifras do Forró Mastruz com Leite, a participação e construção de alguns grupos musicais com amigos, mas mesmo assim, pausados por mais uma vez.

A verdade é que quando se estuda e trabalha com bastante efusão, diversos fatores são afetados. Por vezes, familiares e amigos sentem esse afastamento em causa da vida acadêmica, o que também acaba por atingir outras camadas.

Enquanto tentava buscar o retorno a esse hobby, a minha mente que é a de quem está inserido no meio da produção científica acadêmica, também me fez ir descobrir sobre assuntos diversos da música, como história e teoria da música. Conheci novos gêneros musicais, entre tantos me deparei com a nomenclatura Ópera Rock. Uma espécie de junção entre a Ópera, uma das mais tradicionais formas de expressão musical da humanidade com o rock in roll, talvez a última forma mais significativa de vida de forma de vida através da música.

A Ópera Rock trata-se de um produto com canções interligadas onde existe algo em comum, algo a dizer, não apenas uma história para contar. É um projeto considerado ambicioso e de bastante envergadura.

Segundo o professor Mario De Vivo, a ópera rock é um gênero que se originou a partir da ópera clássica na metade da década de 1960. O professor conta que “as óperas mais conhecidas hoje tiveram suas primeiras aparições no século 17”, ainda que o gênero esteja mais ligado aos musicais, que são shows de músicas adaptados para o teatro, nos quais existe um tema central e uma história para ser desenvolvida.

A primeira ópera rock foi Hair (cabelo), obra escrita por James Rado e Gerome Ragni e criada por Galt MacDermot. O musical estreou em 1967 e na época se tornou um dos hinos dos movimentos antiguerra do Vietnã, seguindo a linha do rock como gênero que se alinha às causas sociais. O nome do musical fazia referência ao significado dos cabelos grandes dos homens, que representava contradição ao Estado que incentivava o apoio da população à guerra.

Dentre as principais características da ópera rock, De Vivo destaca que ela “é uma versão que não tem diálogos, diferente das óperas comuns, que são mais teatrais e a interação entre personagens se dá com facilidade”, mas ele ressalta que não é unanimidade.

Mas afinal, um musical pode ser considerado uma Ópera? Segundo De Vivo a distinção no fundo é essencialmente semântica, pois ambos possuem muita cantoria por parte dos personagens e quantidade variada de diálogos não cantados. Em geral, as Óperas Rock do jeito que a gente define mais estreitamente não têm diálogos, enquanto os musicais são mais teatrais. Então, muito provavelmente a maior diferença esteja na concepção da obra. No final, a pergunta que deve ser feita é: A obra foi feita para existir na concepção de um álbum de um artista, ou foi planejada para produção e apresentação em um teatro?

Quando pensada para a criação de um produto musical, a Ópera Rock exige mais do ouvinte do que apenas o observar a música de maneira isolada, como habitualmente fazemos com os álbuns que ouvimos. Aqui é necessário compor as músicas em cima de um determinado tema, cujas canções realmente façam algum sentido. Uma Ópera Rock pode ter um conceito maravilhoso, uma produção impecável, mas acima de tudo se ela não tiver boas canções, certamente não vai funcionar e o produto final será bem ruim.


Mas enfim, o que tem haver um site de um fã clube de uma banda de forró, que até hoje é questionada por pessoas como não sendo forró, está falando sobre rock? Pior, falando sobre um gênero que soma este rock à ópera?

Aqui chegamos na junção citada neste artigo, onde o meu padrão de pesquisador científico com o aprendizado da música e o lado de fã do Forró Mastruz com Leite, me fez ter coragem em começar a escrever um projeto pensado para a banda mãe, o que tenho chamado de Ópera Junina. Não entrarei em diversos detalhes sobre o que já foi escrito, mas posso te possibilitar alguns cenários do que tem sido pensado. 

Imaginemos algo da seguinte forma: Forró Mastruz com Leite, um teatro e todo uma configuração por trás sendo realizada. A Ópera Junina seria a pioneira do forró eletrônico recebendo uma orquestra sanfônica em um projeto musical inédito, apresentando uma certa história dividida em atos configurados entre teatralidade e musicalidade. Temos também, além claro de uma performance de seus próprios músicos, a presença de uma Quadrilha Junina encenando com todos eles. Temos bandeirinhas, balões e fogueira. Foi pouco, mas certamente já deu para ter uma ideia do que estamos falando, não é?

Por alguns dias, pensei na possibilidade de fazer com que isso chegasse aos ouvidos de pessoas responsáveis pela produção musical da banda, contudo me apequenei por traduzir os olhares que se quer recebi com bastante negação. Já em outro momento reciclei esses mesmos pensamentos, fazendo desse provável desafio algo que seja ao menos palpável no meu sentimento de dever cumprido.

A Ópera Junina do Forró Mastruz com Leite escrita por mim vem como mais um novo filho nessa maturidade de vida. Primeiramente a coragem em escrever um livro (já com vontade de escrever outros), agora o surgimento de uma perspectiva em que jamais poderia imaginar, colaborar com os profissionais que tanto admiro em fazer algo surgido da cabeça de um fã para a banda que tanto admiro. Escrevo este artigo e ainda o considero como algo inimaginável.

A Editora Passaré nos convida, pobres mortais, a querer submeter e registrar nossas canções nela, e claro, os compositores de oficio. Na verdade, nunca fui um compositor, apesar de ter diversas canções escritas e ainda sem o molho dos arranjos, já que a vida pessoal tem me impedido de voltar a estudar meus instrumentos musicais e deixa-las sem vida. Contudo, o processo criativo do meu ofício de formação e a produção científica me deram diversos subsídios para fazer algo que, parafraseando o Emanuel Gurgel, vejo igual a todo mundo, mas enxergo além deles. Se teremos novidades sobre isso, só o tempo dirá.

Essa Ópera Junina na verdade não trata sobre a história da banda, mas parte de uma temática que parte da união da cultura imensa que o nosso Nordeste possui, onde envolve os nove Estados da região. Já pude conversar com pessoas próximas e até o momento o olhar foi de aprovação, claro, pessoas conhecidas são sempre um elmo perigoso para lhe avaliar, mas já é um ponto de partida. 


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