POR QUE O MASTRUZ COM LEITE NÃO MUDA O REPERTÓRIO?
A difícil tarefa em agradar aos fãs e ao público casual nos shows do Mastruz com Leite. Algo que se repete com o repertório de diversos artistas da classe musical brasileira.
O questionamento da pouca alternância no repertório do Forró Mastruz com Leite é algo que vem de muito tempo e claro, parte sempre dos fãs que estão presentes no cotidiano da banda. Isso deve ficar bem claro já que há uma diferença abissal entre quem está no dia-a-dia com a banda daquela pessoa esporadicamente (geralmente vai atrás somente quando algo de ruim, acontece, pois notícia ruim é o que vende) dos acontecimentos.
Veja, só de idade eu acompanho o Forró Mastruz com Leite por 23 anos. Aqui não é uma questão de quem acompanha por mais ou menos tempo, mas sim explanar sobre duas décadas indo a shows, comprando produtos, viagens, viagens e mais viagens, conhecendo pessoas de diversos locais por causa dela, fãs e admiradores como eu sou e consequentemente vendo as mudanças ou não que nela surgiram. Poderia falar sobre as mudanças de músicos, vocalistas, mas isso é um papo para outra hora. Vamos conversar sobre o repertório do Mastruz com Leite, um grupo de quase 35 anos de história na música e com mais de 50 trabalhos gravados.
Para quem não alcançou a época de aquisição de produtos para se ouvir música em casa como os vinis ou que não tenha parado para ler a respeito, décadas atrás quando o LP era o destaque para consumir música em casa depois dos rádios, era comum o respectivo trabalho de um artista ter uma limitação de tempo para se inserir as suas músicas. Isso porque o vinil com maior capacidade (aproximadamente 60 minutos, 30 por lado) obrigava-o a fazer com que suas músicas coubessem nele, quando não esse disco saia em formato duplo, triplo e as vezes até quadruplo, encarecendo-o ainda mais.
Naquela época, os vinis saiam com cerca de 10 a 12 faixas, onde indiretamente você tinha uma música para ouvir em cada mês do ano. Isso viabilizava o "conhecimento" completo daquela obra, onde dessa forma o artista realizava seus shows com a certeza de quem todo mundo estaria a plenos pulmões cantando suas músicas mais recentes. Independente das rádios tocarem ou não (pois era necessário o famoso jabá para serem executadas), quem consumia o seu trabalho adquirindo o seu vinil conhecia todas as canções de cabo à rabo. Assim, muitos lançavam discos anualmente e sabendo que durante um ano poderia cantar as antigas e principalmente as mais novas músicas.
Com a chegada do CD e a proliferação da pirataria nesse tipo de mídia, muitos artistas corriam contra o tempo para tentar combatê-la, por isso o Forró Mastruz com Leite tem anos com 3 a 4 discos lançados. Isso era bom para os fãs da banda, até porque só fazia aumentar o leque de músicas para curtir quando ia a um show, já outros artistas ao lançarem seus novos trabalhos mesmo que anualmente faziam as chamadas turnês, algo muito presente até os dias atuais com grandes grupos musicais internacionais e como foi num passado distante com o Limão com Mel.
Acontece que a internet, pirataria e o derrame dos CDs promocionais não só acabaram com as lojas de vendas de discos no nosso país, como fizeram no cenário forrozeiro diversos grupos fecharem suas portas. Isso aconteceu devido a ideia que os seguidores dos novos grupos musicais precisavam de "músicas" novas todos os meses. Será que você lembra de entrar em sites de download onde continha os MP3 de repertório novo de Janeiro de fulano, de fevereiro de ciclano, de março de beltrano e assim sucessivamente? Pois sim, foi um tempo esquisito se assim podemos chamá-lo.
Acontece que grupos de forró eletrônico mais tradicionais precisaram entrar naquela onda para não acabar "morrendo", onde os artistas de forró tradicional foram uns dos que mais sofreram. Dessa forma foi comum ver shows do próprio Mastruz com Leite cantando "Ai, ai, ai" da Vanessa da Mata, "Chupa que é de Uva", "Renata" de Latino e outras mais. Tudo isso para quê? Para agradar aos fãs seguidores ou para sobreviver e agradar ao grande público e não se ver fora da época? Simplificadamente, por isso surgiu o termo "Forró das Antigas", salvaguardando as bandas de repertório artisticamente musical, e não produzindo músicas (se é que podemos chamar de música) mensalmente pelo simples deleite popularesco.
Pode não parecer, mas pouco se mudou de lá para cá. Os CDs promocionais acabaram, aos artistas que se preocupavam em procurar apenas hits fáceis de entrar na cabeça como música de verão de carnaval, àquela que toca no final de Fevereiro e no início de Março não se toca mais, não conseguiram mais emplacar aos moldes anteriores. Entretanto, a sua semente plantada criou raízes profundas e essas continuam afetando o repertório de artistas como o Forró Mastruz com Leite.
Grupos da classe nordestina, mesmo banhados de publicidade financeira para suporte de gravação de grandes produtos ainda continuam engessados em repertórios como é o caso do belo trabalho "A Temporal" da Calcinha Preta. Outros e tantos outros artistas musicais estão presos ao seu passado de glória, pois independente da gravação de um novo trabalho, o grande público - aquele que pouco acompanha o seu trabalho cotidianamente - estará lá aposto com o celular para gravar o sucesso que sabe cantar e usar hashtag show maravilhoso.
A crítica não está em cantar ou deixar de cantar clássicos da sua história musical, o mal está em considerar o show ruim por ter deixado de tocar tal música que não se conhece. São raros os artistas que conseguem agradar sua fanbase e o grande público como antigamente, lançando um disco e transformando-o em uma turnê, onde isso fica bem evidente em bandas do rock (falo isso por uma vivência pessoal). É claro que mesmo nos artistas deste gênero, também há aquele momento do frenesi , mas são geralmente são usados os instantes finais, em estilo pot-pourri, onde se tocam os famosos hits.
Por uma vivência em shows do Mastruz com Leite é notória a montanha russa no comportamento do público presente. Atualmente você pode ter de horas de euforia a horas de pouca empolgação, mas não por causa da banda e sim por uma sinalização a qual varia entre pagantes e público de evento gratuito. Claro, outras circunstâncias precisariam ser levantadas além de uma simples observação in loco como essa citada.
Infelizmente, o Forró Mastruz com Leite pouco mudará seu repertório, por uma espécie do conformismo em agradar mais aqueles que não se dão ao trabalho de acompanhar os trabalhos novos da banda desagradando seus seguidores fiéis. É um cabo de guerra que não há como os fãs conseguirem vencer, ainda mais nos tempos atuais cujo termômetro para o artista voltar ou não para aquela cidade em que se apresentou é o feedback da classe popular nos perfis sociais de contratantes. O máximo que se será sempre feito é o remanejamento das canções clássicas, mudando ordens e inserindo ou retirando outras já conhecidas. Repito, não há problema algum em tocar essas músicas até porque o show tem que ser bom para todos, mas a muito tempo essas apresentações vêm sendo bom apenas para os avulsos nas apresentações da banda.
Se o Mastruz com Leite for gravar um novo produto para agradar o grande público e não tirando "Meu Vaqueiro, Meu Peão", "Saga de um Vaqueiro", "A Praia", "Barreiras", "Na Ponta do Pé" e similares de fora, continuarei presente nos shows, mas sem um estigma glorioso de outrora. Não há culpa nos músicos e muito menos nos fãs seguidores, mas sim no que foi dado ao grande público cuja ferida não cicatrizou. Apesar disso, como dito anteriormente, essas raízes são profundas e o Mastruz com Leite precisa agora ser a pioneira em fazer esse manejo, tirando essa espécie danosa, plantando uma nova e saudável.
A Evelyn chegou, mais uma voz jovial e agora virá um novo cantor masculino, se o Mastruz com Leite não agarrar essa oportunidade principalmente em 2025 para tornar as suas apresentações mais equilibradas entre aqueles que a conhecem e aqueles que acompanham, aí você pode ter certeza que isso jamais irá acontecer em outra época.
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