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CRÍTICA - VEM DANÇAR FORRÓ

Crítica - Mastruz com Leite Vem Dançar Forró

O novo trabalho do Forró Mastruz com Leite foi lançado na última sexta-feira dia 12 de dezembro de 2025 com um certo tom inicial de felicidade, arrefecido aos poucos com os posts relacionados as músicas das quais estariam presentes.




Se a proposta era regravar sucessos do chamado lado B, ou seja, músicas que naturalmente não são amplamente conhecidas, esse objetivo passou longe de ser cumprido. Na verdade, numa discografia rica como a do Forró Mastruz com Leite, soa uma espécie de receio para experimentações do chamado fora da caixinha, não só músicas do lado B como para as mais novas, deixando engavetados singles gravados por vozes de cantores da atual formação da banda como se repete no "Vem Dançar Forró".


A arte do disco conta com a presença dos vocalistas, exceto a Roberta Felina de licença maternidade que mesmo não gravando no projeto, causa estranheza vide as imagens editadas de registros de apresentações da banda e não houve em campanha em estúdio. Bastava seguir algo já feito pela própria banda no "CD Oficial do São João", onde Kátia Cilene não gravou nenhuma do faixa do disco e mesmo assim inseriram "Simpatia de São João" e "Ô Peste" dos discos "Coração de Pedra" e "Moto Táxi" respectivamente. Certamente há algo gravado na voz da cantora nesse tempo em que ela está... Bom, ao menos deveria.


O "Vem Dançar Forró" está apenas nas plataformas digitais e conta com 31 músicas distribuídas em 11 faixas de um trabalho iniciado em outubro com os músicos Bem-te-vi, Lulu do Acordeom, Artur César, Jean, Tiago Sena, Ricardo Barros, Wel Bass, Meire de Castro, Neném Esmério, Mara Rodrigues, Gilly Araújo, Nerivaldo Bezerra, Evelyn Silva e Djailma Pontes. Como citado anteriormente, a cantora Roberta Felina não gravou no trabalho.


Com um gosto agridoce, "Vem Dançar Forró" repete a receita de mais um trabalho em fomentar canções cansadas de regravações. Longe de trazer obras poucas executada em shows ou nas plataformas de streaming, pois as empresas têm controle da performance de seus artistas musicais nessas ferramentas  algo diferente do controle em vendagem de disco como outrora ou alcance nas rádios mesmo em 2025 apesar da persistência do "jabá", o resultado é apenas mais um entre tantos já feitos, sendo o lado B apenas uma concepção de produto não aplicada.


Esse novo disco abre com "Caiu a Ficha", música gravada originalmente no disco "Senha Secreta" do Forró Catuaba com Amendoim, apresentando Raynner Rilker ao cenário do forró, posterior vocalista do Forró Mastruz com Leite em que gravou a mesma no DVD em Caruaru (Pernambuco) no ano de 2007. Nas vozes do Gilly e da Djailma e de leve ausência dos backs-vocais e de efeitos percussivos como na versão ao vivo, foi uma ótima escolha para abrir o disco. Na faixa seguinte está "A Praia". Tanto ou até mais desgastada do que, por exemplo, "Meu Vaqueiro, Meu Peão", ela poderia ter passado longe desse setlist, se é que a tratam como uma canção pouca conhecida ou pensam que o público rotativo das plataformas de streaming são atentos ao ponto de eloquentemente escolherem qual versão ouvir.


Em seguida está o primeiro dos sete pout-pourri do disco. Com "Bichinho de Estimação", onde não basta ser uma das canções carro-chefe do Forró Cavalo de Pau, banda que está ativa do próprio grupo, ela  foi regravada também recentemente com o Mastruz com Leite no "Canta Rita de Cássia". Lá fez sentido estar, aqui é escalada por ser top tier da "banda irmã" servindo de mode para ser calçada por outra. A próxima é "Vou Te Sequestrar" que além de outras bandas e a Mastruz com Leite ter gravado disco em homenagem a Rita de Cássia é uma boa canção de lado B, contudo seu espaço poderia ser de outra.


"Eu, Você e o Amor" é a próxima desse pout-pourri, gravada pelo Mastruz com Leite no seu quarto disco ao vivo, se apresenta como uma aposta de lado B em virtude de ter sido gravada a bastante tempo e consequentemente não é tocada em shows desde meados da época desse disco. Fechando esse bloco está "Amor Verdadeiro", gravada numa voz masculina e soou positivamente principalmente por causa das mudanças nos arranjos.


Já o outro pout-pourri com as canções "Perguntas sem Respostas", clássico com impossibilidade de não remete-la ao Brasas do Forró, "Casa Separa" e "Só Nane Nane" que assim como "Forrobodó" e "Na Ponta do Pé" (essas duas não estão no disco) parece existir uma dificuldade em separa-las, ficaram ok, entretanto, convenientemente aparecem nas apresentações e estão longe de serem lado B. E "É o Boi o Cavalo e o Vaqueiro", uma ótima música característica de vaquejada, mas que poderia ser acompanhada por outras do disco "Vaquejada e Forró", esse pouco explorado e cheias de lado B, C, D...


A faixa seguinte segue com "Ao Passo da Loucura"  quarto lugar na nossa enquete de 2022  e "Tanto Amor", canções executadas durante a fase de seu lançamento, mas difíceis de serem mantidas mediante o tanto de ótimas outras canções da banda. Essas sim, ótimas escolhas de um lado B.


A próxima faixa é a canção "Razões"; não preciso gastar caracteres para descrever a desnecessária necessidade dela estar aqui. Assim como "Destino", "Princípio, Meio e Fim" e "Espaço Sideral" do próximo pout-pourri, pois além de não serem canções do lado B, ambas estão cansadas de tantas regravações e aparições em trabalhos do Mastruz com Leite. A exceção fica para "Medo de Te Perder", pois além de ser uma excelente música essa pode sim ser classificada como lado B.


Na faixa oito temos "Quando Você Quiser Voltar". Uma ótima música, mas o potencial em fazer dueto com ela ouvido com João Filho e Ana Amélia poderia ter sido explorado. "Doce Mistério" é outra que infelizmente, assim como na grande maioria das músicas desse trabalho, fica sonoramente evidente uma problemática em sua equalização, por vezes a voz da Mara Rodrigues destoa do instrumental. Já "Coração Sangrando" torna-se uma excelente aposta e ficou bem gravada, apesar da clara falta dos metais como temos no Ao Vivo V  Mastruz é Mastruz.


A faixa nove com "Pneu Furado"  por mim considerada lado A e pouco regravada  teve um resultado satisfatório. As apostas em "Tô Bebendo, Tô Pagando", transparece alcançar o público consumidor de bebidas e "Vem Dançar Forró", foram boas escolhas mesmo inexistindo uma consonância entre essas três canções. Tô Bebendo, Tô Pagando poderia, por exemplo, ter ficado na mesma faixa com "Perguntas Sem Respostas". A penúltima faixa traz "Meio Dia" e "Onde Canta o Sabiá". Também me abstenho de comentar sobre a existência delas num trabalho de trazer sucessos não tão conhecidos do Mastruz com Leite. 


Por fim, a última faixa com "Aboio Pra Ninar Morena" (sim, lado b), onde ficou muita boa a sua regravação, "A loira e a Morena" que apesar de não vê-la sendo tocada em shows como é o caso de "O Gemidinho", "Umbiguinho de Fora", "Meu Negócio é Pitelzinho" e "Não Existe Couro Velho", estão a contento. "Passe a Mão no Rabo Dela" soou agradável mesmo com o SV dos back-vocais ter ficado pasteurizado, já "De Coração pra Coração" é mais uma música estilo "forró-vaneirão" de sucesso do Brasas do Forró que poderia ser melhor locada na faixa e muitas outras poderiam ficar no seu lugar.

 

Com faixas de traços sonoros minimalista, o resultado final do "Vem Dançar Forró" repete o MP3 "Terapia  Forró Sem Efeito Colateral" do Mastruz com Leite, de forma aparente que a produção musical de aumentar o volume das músicas também vem deixando de lado a qualidade do som. Parece que as partes mais baixas e as mais altas de uma música são comprimidas, deixando essas diferenças claras para tornar tudo mais alto. Ao menos nos meus ouvidos, isso fez-me ouvir o "Terapia" uma única vez e acho que isso se repetirá com o "Vem Dançar Forró".


Veja, não sou especialista técnico no assunto, é uma percepção casual qualitativa do amante da música a qual o Mastruz com Leite sempre fez questão de entregar. Pode ser um efeito do hábito em ouvir músicas em vinil ou em CD? Talvez. Contudo, fica essa observação e muitas outras além da percepção sonora como explanadas aqui.


A impressão que dá é de uma falta de substância, porém o Mastruz com Leite não é culpado por isso. Reunir compositores, passar meses compondo e produzindo arranjos para gravar um disco conceitual é algo desgastante e convenhamos, a grande maioria dos artistas não estão muito preocupados com isso. Alimentar as plataformas digitais com sucessos, reunir antigas formações para fazer turnês de despedidas, requentar clássicos com novas vozes, é a fórmula que satisfaz aqueles usuários da música como pano de fundo para afazeres, já os seguidores, seguem carentes de obras novas cada vez mais distantes de serem feitas.


Essa é a primeira parte do "Vem Dançar Forró" e me coloco como receoso das seguintes, pois até "Saga do Vaqueiro" é capaz de virar "lado B". De toda forma, o negócio mesmo é lamber os beiços com o que nos foi entregue.

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